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Pousada das Missões

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​AS MISSÕES E O INÍCIO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO


    Dentro da herança econômica e social é fundamental compreendermos o tema que está polarizando pesquisadores de várias partes do mundo: A verdadeira história do cooperativismo começaria nas Missões. Escutando o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul, Vergílio Périus, defende as ideias do estudioso Rafael Carbonell de Masy, de que é chegada a hora de resgatar a verdade sobre a origem da primeira cooperativa, surgida em 1626, nas Missões Jesuítico-Guaranis.
    Diz o nobre presidente que surge um desafio para as cooperativas da América Latina de restabelecer a verdadeira história em relação à fundação da primeira cooperativa. A cultura europeia ensina como sendo a Inglaterra, através de Rochdale que teria sido o berço do cooperativismo, em 1844. No entanto, os estudos do professor apontam 1626 como o ano da fundação da primeira cooperativa em terras latino-americanas.
    Aponta que no documento de formação do cooperativismo de Rochdale diz que seriam usados os mesmos métodos dos indígenas da América, o que clareia que a experiência já havia sido divulgada na Europa. O texto de Muratori, principal filosofo italiano dos 1700 já clareava o modelo em seu livro, o qual foi amplamente lido pelos europeus, “O cristianismo feliz nas Missões Jesuíticas”. Tais princípios já eram praticados e sistematizados em nossas terras, diz Périus, é a prática da livre adesão, pois o povo indígena podia optar entre o “tupambaé”, propriedade comum com produção comunitária e o “abambaé”, âmbito privado de produção familiar.
    Este novo modelo fazia com que as ferramentas e os meios de produção, em vez de pertencerem a particulares, eram propriedade coletiva; as classes e o Estado foram abolidos. Os trabalhadores da indústria e da agricultura formaram uma associação livre de trabalhadores que se administrou economicamente. A economia local organizada, segundo um plano, baseou-se numa técnica aperfeiçoada, tanto na indústria como na agricultura. Não houve oposição entre a cidade e o campo, entre a indústria e a agricultura. Os produtores foram repartidos segundo a regra “De cada um, segundo suas capacidades, para cada um, segundo as suas necessidades”. A ciência e as artes foram colocadas em condições suficientemente favoráveis para chegarem a seu pleno florescimento. A personalidade dos guaranis isenta de preocupações da existência cotidiana e da necessidade de comprazer aos poderosos deste mundo, acabaram realmente livres.
    A Província Jesuítica do Paraguai foi constituída pelos jesuítas a partir das utopias de Morus, Bacon e Campanella. O Padre Lugon, em seu livro, disse que foi a mais original das sociedades realizadas. Paul Lafargue, em conjunto com Bernstein, Kautski, Plechanov explica que o projeto constituiu uma das experiências mais extraordinárias, que jamais tiveram outro lugar.  Também Charlevoix e Muratori reconheceram-na como um modelo sem precedentes de sociedade cristã. A revista Lês Lettres Edificantes et Curieuses, dirigida pelos jesuítas, comparava os guaranis aos primeiros cristãos e descrevia suas comunidades como a realização ideal do cristianismo. Voltaire afirmou que o projeto Jesuítico-Guarani foi um “triunfo da humanidade”. Montesquieu chamou de “primeiro estado industrial da América”. O Abade Carbonel chamou de “coletivismo espontâneo”. Pablo Hernandez na Organización Social de las Doctrinas Guaranies, escreve que o maravilhoso surge a cada passo. O filósofo Rayal escreveu: Aí se observavam as leis, reinava uma civilidade exata, os costumes eram puros, uma fraternidade feliz unia os corações, todas as artes de necessidade estavam aperfeiçoadas. A abundância era ai universal. Teve a graça das crianças, uma pureza repleta de candura. O mundo novo que estamos procurando realizar não pode menosprezar a lição fornecida.
    Nós os moradores da Nação Missioneira temos o dever espiritual de divulgar estas e outras ideias que fizeram de nós o início das lutas libertárias da Pátria Grande, pois fomos em 1754 a 1756 o início das lutas para formar o País dos Nativos Guaranis. Ideia esta massacrada conjuntamente e pela única vez, pelos exércitos de Portugal e Espanha.
José Roberto de Oliveira


Fonte: José Roberto de Oliveira


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